segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Segredo do Poeta - Lisboa


Continuação do post anterior...


Encostado no parapeito da janela da varanda da frente, enquanto mergulhava no seu interior, fez aquela espécie de oração, indagando Deus. A memória fê-lo viajar nas asas do tempo.

O Poeta, indicou-lhe os momentos vividos, lá no fundo da memória, no longínquo ano de 1970.

*** *** ***

Cármen tinha oito anos. Continuava a ser aquela menina doce, linda, admirada por todas as colegas da classe, e elogiada pela professora no desempenho escolar. Era a mais interessada na aprendizagem da matéria e, em cada trabalho de grupo, via a oportunidade de fazer novas amizades. Vivia na freguesia da Amadora, ainda Concelho de Oeiras, na periferia de Lisboa, no tempo em que as crianças brincavam na rua, nos jardins e nas praças em perfeita segurança.

A "Princesa", - como era tratada carinhosamente pelo seu pai -,era também, uma excelente estudante de musica. Com apenas oito anos, já tinha o privilégio de pertencer ao TopTen Children, da Academy Music Group. Foi distinguida com o prémio da melhor executante, como pianista revelação desse ano.

O destino das duas famílias estava ligado por um cordão umbilical misterioso, secreto, quase místico. Jorge desconhecia o paradeiro da Carmen. A "princesa", guardava a imagem do amigo de mil aventuras na Floresta dos Cucos, onde o sonho não morre e a aventura acontece.

*** *** ***

Jorge, com a mesma idade, já demonstrava ter aptidão para as belas artes; bastava olhar os seus desenhos a três dimensões, nas paredes brancas de cal, do muro da horta de legumes. A mãe, não aprovava a tela preferida do seu "traquinas" e reprovava a escolha, com uma palmada no fundilho das calças do filho. Mas, logo que estava com o Manuel, com seu sorriso envaidecido chamava a atenção ao escultor mor da casa:

- Marido, já viste o jeitinho que o nosso Jorge tem pró desenho?- quando dizia isso, as covinhas no rosto eram mais evidentes. O Marido abraçando-a respondia:

-Qual é a tua admiração? - Quem sai aos seus não degenera - era a gargalhada a duas vozes.

Nessa altura da conversa o filho chegava e, com aquele ar sofrido dizia:

- Pois...já sei que estão a rir de mim... - os progenitores não aguentavam a pressão, e riam, riam até a nuca lhe doer, sinal indicador que era melhor pararem, não morressem de tanto rir...




Continua...



quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Sonho do Poeta - Lisboa

Continuação do post anterior...


O Segredo do Poeta

( Lisboa)


Jorge não suportou a comoção. Foi até à janela, abriu as persianas e sentiu a frescura da brisa marítima refrescando o rosto. Observou o movimento das folhas e dos ramos das árvores da rua. Mergulhou no seu interior com algo parecido com uma oração: "Deus, eu não sei quem sou e gostava de saber onde estás. Preciso que me ajudes neste momento tão difícil..."

Os últimos momentos não paravam de passar como um filme na mente do nosso amigo...

Quando o táxi parou no lote 223, a família Fidalgo estranhou um magote de vizinhas no Hall de entrada do prédio. Ouviram uma das senhoras dizer:
- Foram três...sim, três de fato preto. Pareciam ser do demo, tão feios de aspecto...desgraçados!
- Demónios...deviam ser castigados por Deus, que mal fizeram as criaturas para lhe fazerem uma injustiça deste tamanho? - disse a filha da primeira.

O porteiro do prédio chegou naquele momento e tratou de aconselhar silêncio:
- Minhas senhoras, uma vez que não sabemos quem nos escuta, façam o favor de mudar de assunto.

Proferiu as palavras em surdina, apontando com o indicador, a família Fidalgo, acabada de chegar no táxi pintado de verde e preto, esbaforido de cansaço pelos milhares de quilómetros percorridos nas ruas da velha Lisboa.. O tubo de escape do velho Mercedes-Benz, soltou mais fumo que todas as fabricas instaladas na cintura industrial do enevoado e poluído Barreiro dos anos 70.

Subiram as escadas... O apartamento dos amigos González, estava um caos. A porta de madeira castanha com puxador dourado, estava completamente aberta. O pai do Jorge foi o primeiro a entrar, chamando pelos amigos. O Jorge segurou na mão da mãe, com o olhar assustado...



Continua...»

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Segredo do Poeta

(Continuação do Post anterior...)

O Segredo do Poeta

O Poeta, sentado no banco de pedra, vive na memória o que o tempo não apaga. Escreve no seu caderno, as lembranças do passado:


Inanidade (sem valor, futil, vazio de...)


Eu sou o que sou por ontem ser

Eu sou a fé irmã da esperança

Sou o amor sem inconfidência

Sou o que sou por hoje ser...


Sombras de ontem me procuram

Nas névoas do tempo amargo

Tacteando eu vou, esperançado

Em Deus sem medo me acharam!


Sou o que fui, amanhã talvez...

Sou homem, sou luz e sou mar.

Sou o que sonha, e sem altivez!


Aprendo orgulhoso a humildade

Entre quedas na aprendizagem

Ah!Meu Deus,sinto-me inanidade!..


( do poema "inanidade" dePjCondePaulino)


Enquanto a família Fidalgo entrava em Lisboa, a família Gonsalez, vivia a experiência mais amarga que até ali tinham vivido. O engenheiro Manuel Gonzalez, tinha sido preso pela policia politica do regime.


Continua...



O Segredo do Poeta