terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O Poeta . Medo Sensorial


O MEDO SENSORIAL

O telefonema do advogado de Manuel Gonsalez chegou quando o Jorge , a mãe e o pai se preparavam para sair do apartamento dos amigos desaparecidos.

-”Está...Sr. Fidalgo? - é Carlos Fonseca, advogado dos Gonsalez. Estive com o engenheiro Manuel ...sim, estivemos juntos... lá, no seu atelier..
-”Ah sim..doutor, lembro-me perfeitamente.Mas, o que se passa com os nossos amigos? - perguntou solícito, fixando o olhar nos olhos ansiosos do seu filho e da esposa.
-"Antonio, é melhor falarmos pessoalmente,- sussurrou o advogado - “venha ter comigo ao Jardim da Estrela.
-"Está bem, doutor... Até já !

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O dia 26 de Janeiro desse ano, amanheceu frio com as nuvens num reboliço, negras e grávidas de gelo. O Poeta, nessa noite fez a maratona das horas fazendo escala em cada hora certa.

Estava preocupado, nervoso,com aquele “companheiro indesejável” que o tinha acompanhado nos ultimos tempos. Essa espécie de medo sensorial criando um mau-estar interior.

Aquela sensação de abandono solitário, persistia, mesmo depois de fazer os seus exercícios e orações matinais.

O telefone tocou... Levantou o auscultador; uma voz feminina, suavemente, soprou-lhe um texto sagrado vindo lá do princípio dos tempos.

1
¶ ...”: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.
2
Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.


Levantou-se e sorriu, para enfrentar um dos maiores desafios da sua vida...
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ano Novo


%%% Feliz Ano Novo%%%



Gratidão é um acto de Grandeza

“Procuremos desenvolver entre nós o amor fraternal e estimulemo-nos a fazer o bem...animemo-nos uns aos outros...”(Hebreus 10:24,25 – da Bíblia)




O “Dia de Acção de Graças” é comemorado todos os anos, na quarta Quinta Feira de Novembro, sendo feriado oficial nos Estados Unidos e no Canadá. Os Historiadores, defendem que este evento começou em 1621, após o desembarque dos emigrantes ingleses em território americanosãos-e-salvos. Comemora-se com um jantar especial.



Não importa a convicção religiosa de cada um; é bom fazer uma pausa para expressar gratidão a Deus pelas alegrias e bençãos obtidas durante o “ano transacto”. Mesmo quando enfrentamos lutas” sérias; problemas de saúde, dificuldades financeiras, desafios e incertezas profissionais, há sempre“motivo” de gratidão pela Vida.


Gratidão pela “Vida”%%% onde o Amor nos “amores”%%% na Amizade, e na Família*** está bem vivo.
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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Segredo do Poeta - Lisboa


Continuação do post anterior...


Encostado no parapeito da janela da varanda da frente, enquanto mergulhava no seu interior, fez aquela espécie de oração, indagando Deus. A memória fê-lo viajar nas asas do tempo.

O Poeta, indicou-lhe os momentos vividos, lá no fundo da memória, no longínquo ano de 1970.

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Cármen tinha oito anos. Continuava a ser aquela menina doce, linda, admirada por todas as colegas da classe, e elogiada pela professora no desempenho escolar. Era a mais interessada na aprendizagem da matéria e, em cada trabalho de grupo, via a oportunidade de fazer novas amizades. Vivia na freguesia da Amadora, ainda Concelho de Oeiras, na periferia de Lisboa, no tempo em que as crianças brincavam na rua, nos jardins e nas praças em perfeita segurança.

A "Princesa", - como era tratada carinhosamente pelo seu pai -,era também, uma excelente estudante de musica. Com apenas oito anos, já tinha o privilégio de pertencer ao TopTen Children, da Academy Music Group. Foi distinguida com o prémio da melhor executante, como pianista revelação desse ano.

O destino das duas famílias estava ligado por um cordão umbilical misterioso, secreto, quase místico. Jorge desconhecia o paradeiro da Carmen. A "princesa", guardava a imagem do amigo de mil aventuras na Floresta dos Cucos, onde o sonho não morre e a aventura acontece.

*** *** ***

Jorge, com a mesma idade, já demonstrava ter aptidão para as belas artes; bastava olhar os seus desenhos a três dimensões, nas paredes brancas de cal, do muro da horta de legumes. A mãe, não aprovava a tela preferida do seu "traquinas" e reprovava a escolha, com uma palmada no fundilho das calças do filho. Mas, logo que estava com o Manuel, com seu sorriso envaidecido chamava a atenção ao escultor mor da casa:

- Marido, já viste o jeitinho que o nosso Jorge tem pró desenho?- quando dizia isso, as covinhas no rosto eram mais evidentes. O Marido abraçando-a respondia:

-Qual é a tua admiração? - Quem sai aos seus não degenera - era a gargalhada a duas vozes.

Nessa altura da conversa o filho chegava e, com aquele ar sofrido dizia:

- Pois...já sei que estão a rir de mim... - os progenitores não aguentavam a pressão, e riam, riam até a nuca lhe doer, sinal indicador que era melhor pararem, não morressem de tanto rir...




Continua...



quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Sonho do Poeta - Lisboa

Continuação do post anterior...


O Segredo do Poeta

( Lisboa)


Jorge não suportou a comoção. Foi até à janela, abriu as persianas e sentiu a frescura da brisa marítima refrescando o rosto. Observou o movimento das folhas e dos ramos das árvores da rua. Mergulhou no seu interior com algo parecido com uma oração: "Deus, eu não sei quem sou e gostava de saber onde estás. Preciso que me ajudes neste momento tão difícil..."

Os últimos momentos não paravam de passar como um filme na mente do nosso amigo...

Quando o táxi parou no lote 223, a família Fidalgo estranhou um magote de vizinhas no Hall de entrada do prédio. Ouviram uma das senhoras dizer:
- Foram três...sim, três de fato preto. Pareciam ser do demo, tão feios de aspecto...desgraçados!
- Demónios...deviam ser castigados por Deus, que mal fizeram as criaturas para lhe fazerem uma injustiça deste tamanho? - disse a filha da primeira.

O porteiro do prédio chegou naquele momento e tratou de aconselhar silêncio:
- Minhas senhoras, uma vez que não sabemos quem nos escuta, façam o favor de mudar de assunto.

Proferiu as palavras em surdina, apontando com o indicador, a família Fidalgo, acabada de chegar no táxi pintado de verde e preto, esbaforido de cansaço pelos milhares de quilómetros percorridos nas ruas da velha Lisboa.. O tubo de escape do velho Mercedes-Benz, soltou mais fumo que todas as fabricas instaladas na cintura industrial do enevoado e poluído Barreiro dos anos 70.

Subiram as escadas... O apartamento dos amigos González, estava um caos. A porta de madeira castanha com puxador dourado, estava completamente aberta. O pai do Jorge foi o primeiro a entrar, chamando pelos amigos. O Jorge segurou na mão da mãe, com o olhar assustado...



Continua...»

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Segredo do Poeta

(Continuação do Post anterior...)

O Segredo do Poeta

O Poeta, sentado no banco de pedra, vive na memória o que o tempo não apaga. Escreve no seu caderno, as lembranças do passado:


Inanidade (sem valor, futil, vazio de...)


Eu sou o que sou por ontem ser

Eu sou a fé irmã da esperança

Sou o amor sem inconfidência

Sou o que sou por hoje ser...


Sombras de ontem me procuram

Nas névoas do tempo amargo

Tacteando eu vou, esperançado

Em Deus sem medo me acharam!


Sou o que fui, amanhã talvez...

Sou homem, sou luz e sou mar.

Sou o que sonha, e sem altivez!


Aprendo orgulhoso a humildade

Entre quedas na aprendizagem

Ah!Meu Deus,sinto-me inanidade!..


( do poema "inanidade" dePjCondePaulino)


Enquanto a família Fidalgo entrava em Lisboa, a família Gonsalez, vivia a experiência mais amarga que até ali tinham vivido. O engenheiro Manuel Gonzalez, tinha sido preso pela policia politica do regime.


Continua...



O Segredo do Poeta

terça-feira, 28 de julho de 2009

O Segredo do Poeta - Capitulo IV

(Continuação do post anterior...)

O Segredo do Poeta


Lembram-se daquela menina, na sala ao lado do quarto onde nasceu? - ah, pois é - . O Jorge não dormia "em serviço" e, nas muitas conversas em surdina, ouviu que a Cari estava a residir em Lisboa.

O jovem aventureiro, nunca tinha deixado a sua pequena aldeia. Isolado, distante, no coração do Alentejo, sem telemóveis -.nesse tempo, só existiam nos filmes de ficção científica -.

Mas, a vida dá muitas voltas, e, num desses movimentos circulares do planeta Terra, foi a Lisboa pela primeira vez, com a esperança de reencontrar a menina, com a qual viveu o tempo mais feliz da sua curta vida, se possível ainda mais linda.

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Capitulo IV

- Lisboa -


Portugal nesses dias, vivia o "espírito" da revolução dos cravos. O 25 de Abril, simbolizava o grito da liberdade, das expectativas de futuro para as novas gerações, excessos e retrocessos, era tempo de mudança.

Quando o autocarro saiu da velha praça de camionagem, Jorge transportava no coração o fervilhar de emoções expectantes. Observava as despedidas, no aceno de mãos entre sorrisos e lágrimas, de famílias que, por falta de condições imigravam para a capital de Portugal, jardim à beira mar plantado.

Com o nariz encostado no vidro frio da janela, viu pela primeira vez os braços abertos da estátua do Cristo Rei, a dar-lhe as boas vindas. Olhou extasiado, extático, arrebatado perante a paisagem esmagadora do rio Tejo, visto da ponte 25 de Abril.

Na sua cabeça de rapaz de 12 anos, viajavam mil pensamentos curiosos e enlevados nos sonhos mil que tinha para viver quando chegasse á antiga rua 5, lote 223 - , antecipava o sorriso mais envolvente, que até ali tinha conhecido...



Continua...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O SEGREDO DO POETA - Continuação

(Continuação do post anterior...)

O Segredo do Poeta


(Adolescência)

Adolescência, tempo de mudanças, alterações no corpo e na alma; hormonas doidas em convulsão, que fazer com tudo isto?

- adolescente sofre -.

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A descoberta do corpo - os sentimentos e reacções químicas/amorosas - nascendo hora-a-hora na pele arrepiante com vontades incontroláveis. A Paixão pela professora de português...

Antes, no tempo da meninice, existia algum “desprezo” pelo belo sexo; ainda me lembro das expressões: - epá as raparigas são tão parvas - .

Mas, esse tempo tinha passado. Agora, os olhares eram outros, romanticamente atentos ao passar das meninas perfumadas.

A turma de rapazes, encostados na esquina do prédio com o Jorge sentado debaixo da amoreira de sombra fresca - escrevia as primeiras cartas ao primeiro amor da sua vida. Permitam que lembre um poema de Júlio Dinis:


Além naquela avenida

De plátanos e salgueiros,

Foi que em teus beijos primeiro

Bebi a primeira vida.


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terça-feira, 21 de julho de 2009

O SEGREDO DO POETA - Continuação

(continuação do post anterior...)

O Segredo do Poeta


Subitamente, ouviu uma voz suave, cantando uma popular canção de saudade. Havia gente escondida? - O nosso herói guardava um segredo e, em simultâneo, cantou a mesma canção da voz melodiosa vinda da cabana...

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Saudade, saudade desse sorrir
Lembranças que me assaltam
Saudade, saudade hás-de vir
Trazer novas que me alegram

Saudade, saudade és em mim
Lembranças correndo no rio
Saudade, saudade sem ter fim
Em ti vivo sem vagas de Estio

Saudade, saudade desse abraço
Lembranças em pétala de rosa
Saudade, sonhando o teu regaço
Espero-te com luz sem nublosa

(Excerto do poema "Canção da Saudade" de PjCondePaulino)


O Poeta aguardava-o com o seu sorriso franco; com o olhar puro de quem já viveu a vida e nela não se perdeu, porque sempre soube encontrar-se, e ajudar a quem precisou de seguir os caminhos da felicidade...

Falavam como velhos amigos. O Jorge tratava o Poeta por "velho amigo". - O Poeta, do alto dos seus 1,85 m colocava o braço nos ombros do amigo e dizia: - Meu "baixot", cresce e aparece - esta frase era motivo obrigatório para darem em simultâneo, a mais bela gargalhada, revelando uma amizade cúmplice .

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Foi nesse período,- agora com 12 anos - que, pela primeira vez, teve contacto com o mundo do trabalho no âmbito das Belas Artes. Nos intervalos das aulas ia ter com o seu progenitor, ao ArtAtelier&Escultura. Fez o primeiro mealheiro artístico em mármore, aprendeu a desenhar as primeiras letras, gravadas, depois, com um badame, ponta de diamante, usando naturalmente a maceta de escultor em cada peça imaginada pela mente inquieta do nosso amigo".

A primeira "obra prima" serviu de cofre, onde guardava segredos sigilosamente escritos, com a cumplicidade sábia do Poeta . Tesouros nunca antes revelados viviam na mente do nosso intrépido e determinado Jorge.

Nos primeiros doze anos de vida, aprendeu gradualmente o quanto é importante ser responsável, humilde e atento - bom ouvinte, usando a curiosidade, e assim, com ambição positiva, chegar o mais longe que a vida permitisse.

Os pais correspondiam-se frequentemente com a família González e, pelo menos uma vez em cada semestre visitavam-se em lugares estrategicamente preparados. No entanto esse facto era ignorado pelo Jorge.

Jorge Fidalgo era agora um adolescente confiante e decidido. Mas, a sombra da ausência da sua "velha" amiga, continuava a visitá-lo nas mais inusitadas situações. Adolescência, tempo de mudanças, alterações no corpo e na alma; hormonas doidas em convulsão, que fazer com tudo isto?

- adolescente sofre -.


Continua...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O SEGREDO DO POETA - Capitulo III

(Continuação do capitulo anterior...)

Capitulo III


O Segredo do Poeta
(Na Cabana)


Deitado na sua cama quente e confortável, Jorge, agora com dez anos, pensava na sua amiga "Cari". Apesar de terem passado quatro longos anos, ainda ficava perturbado com a lembrança do desaparecimento de Carmen Dupont Gonsalez. Durante as noites de inverno, ficava perturbado, às vezes a meio das noites chuvosas, imaginava a sua "amiguinha" perdida na grande cidade. Vivia o secreto receio de nunca mais encontrar aquela que o fazia rir de felicidade desde o dia do seu nascimento.

Sentados à volta da grande mesa, com o tampo em granito cinzento, o Jorge pegou nas mãos da sua mãe, com aquele ar cândido que sempre punha quando queria saber algo importante:
- "Mããee", diz-me...o que terá acontecido à família da Cari? O pai dela matou alguma pessoa?
Antónia ficou em silêncio, foi o marido que interviu de imediato. António olhou para o filho e disse em voz baixa:
- Não quero ouvir falar em política, "Sr Jorge", sabes perfeitamente que, no nosso país , quem tem ideias diferentes, pode simplesmente desaparecer e nunca mais ser visto, entre os seus. Portanto, menino, nada de perguntas. A família Gonzalez foi trabalhar para Lisboa, é o que sabemos.

Nesse momento ouviram uns passos junto da porta que dava para o quintal. Olharam-se em silencio; o pai encostou o dedo indicador junto do nariz, fazendo aquele gesto peculiar seguido de um sussurrado: "xiu... caladinhos...

A noite foi longa... Jorge acordou ainda o Sol dormia. Assim que abriu a porta, reparou numas pegadas na soleira de mármore branco. Correu na direcção da bicicleta vermelha comprada na semana passada pelo avo paterno. Sem perder tempo, pedalou com toda a energia disponível na direcção da cabana secreta.

Jorge da Silva Fidalgo, - a mãe fazia questão de soletrar o nome completo do seu "filhote" sempre que ele se portava mal - Mas, neste momento, a família ainda dormia, só ele caminhava com a bicicleta ao lado, na relva molhada pelo orvalho da manhã.

Subitamente, ouviu uma voz suave, cantando uma canção de saudade. Havia gente escondida? - O nosso herói guardava um segredo e, em simultâneo, cantou a mesma canção da voz melodiosa vinda da cabana...


Continua...

sábado, 11 de julho de 2009

O SEGREDO DO POETA - Capitulo II


(Continuação...)

Capitulo II


O SEGREDO DO POETA

No dia 7 em Outubro de 1967, o Jorge entrou na escola primária Pedro Oliva, na bela aldeia de Cerros Verdes. Solícito, preocupado, com medo do desconhecido, tinha terminado o tempo despreocupado sob a protecção da mãe.

Entrou no novo mundo das responsabilidades académicas, sociabilizando num ambiente novo, com comportamentos intermitentes entre o muito bom, o bom, e o “assim - assim”. Foi algumas vezes “apelidado” de “sabão rino”, sabão muito popular na época; pois, normalmente era dos primeiros da turma, enfim, era um excelente aluno ( permitam-lhe a vaidade retrospectiva).

A pequena Cari" iniciou os seus estudos, na escola de Reguenguinhos, MonReal - sede do concelho de Monte Xaraz. É uma região genuinamente bonita, com um requissimo património histórico: arquitectónico e paisagístico. O cante alentejano é uma constante naqueles campos livres de poluição. A gastronomia tão pura com a qualidade de quem colhe em cada horta, o melhor que a terra oferece graciosamente.

A vida continuava feliz, com os nossos amigos vivendo um tempo de aventuras na Herdade dos Cucos, com o fiel Flash, sempre presente nas correrias, entre os vinhais e o bosque misterioso... Entretanto, a vida da pequena Cármen estava prestes a ser revolucionada por um turbilhão de acontecimentos...

Numa tarde fria de Outono, o Jorge sentiu a primeira tristeza inundar o seu pequeno coração, quando ouviu uma conversa entre os pais.

- O nosso amigo, o engenheiro Manel, foi despedido - sussurrou o pai.

- Oh António, que injustiça,...ele foi sempre tão profissional: é verdade que tem umas ideias diferentes, mas... - disse entre dentes, a mãe do Jorge.

O nosso amigo tentava entender o que ouvia - sentia, lá no fundo do seu coração, que algo não estava bem.

- E agora, o que vai acontecer? - A Maria Alice, a Cari... - continuava a mãe, olhando para o marido.

- O que eu sei é que ele não volta mais a Calipole para trabalhar na firma - lamentou o António.

- E não sabes a "melhor" - continuou: A Maria Alice com a filha, a Cari, já saíram pra Lisboa, a noite passada...

Um silêncio ensurdecedor perpassou na sala, fazendo arrepiar a pele, o coração e a alma do nosso pequeno herói. Na sua cabeça, não parava de reclamar:

- Não é justo, isto não pode ser verdade! A Cari, foi embora e nem um beijo de despedida? - Sentia que tinha sido abandonado, traído e amaldiçoado...

O Poeta da floresta, onde o tempo não passa, e a memória viaja no tempo, sentou-se debaixo do Freixo, - árvore fresca e linda, onde moram as aves mais bonitas do Alentejo. Mas, nesse dia, o silêncio imperou; até as águas do riacho da alegria, deixaram de cantar nos seixos, onde as crianças, durante os primeiros anos da sua existência, viveram a magia ingénua e pura de quem sonha a vida...


Continua...


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sexta-feira, 10 de julho de 2009

O SEGREDO DO POETA (Continuação)



(Continuação do ultimo post...)

O SEGREDO DO POETA


A menina da sala ao lado do quarto onde o Jorge nasceu, era a Cármen, filha de Manuel Gonçalves e Maria Alice Dupont; de ascendência espanhola e francesa, respectivamente. – Os pais e amigos chamavam-lhe amorosamente, “Cari” , amiguinha, presente nas brincadeiras inocentes do “Jorginho. Podemos ver o quadro:

O poeta, sentado na cadeira de baloiço, na esquina do alpendre da casa de campo dos avós da "Cari, observa com ternura, as duas crianças brincando debaixo da macieira carregada do belo fruto do Éden. O "Jorginho", vestido de calções azuis, com suspensórios sobre a camisa branca salpicada de terra molhada, e sumo de maçã misturado nas mãos, pinta, qual Miguel Angelo na Capela Sistina, a face e o vestido da amiga.

A "Cari, de vestido amarelo florido, faz bolinhos de terra molhada, misturada com uvas, colhidas da videira plantada junto da cancela pintada de branco. Ao longe os cavalos relinchavam felizes, alimentando-se na relva verde, circundada pelo bosque dos cucos, lugar encantado, motivo de muitas lendas...

Subitamente, o Flash, cão de guarda da Herdade, aproxima-se, lambendo as mãos dos dois amiguinhos de 5 anos, provocando-lhe, em uníssono, a gargalhada mais sublime e pura, qual quinta sinfonia de Beethoven entoada pelo coro infantil de Viena de Áustria.

Os dois pequenos amigos, entretanto, começam a ouvir o som melodioso duma flauta; sabiam que era o avô da Cármen que chegava. Saltaram e dançaram juntos na felicidade pura de quem pode ser criança...

O poeta, calmamente, levanta o olhar na direcção das montanhas que espreitam altivas, sobre as árvores do bosque. Dentro dele vive o segredo; - sabe que está na hora da estratégica retirada...

Vai cantando pelo caminho:***

*** *** *** *** *** ***

*Quando eu era menino via como menino
agora, mais velho, quero ver o menino
a estalar a língua para me ouvir dizer
que bonito menino as horas sabe dizer..

*Sei que o Pai do tempo lhe mandou dizer
tic tac, tic tac, tic tac, tic tac... Tic

*No ritmo do coração de amor vou dizer
tic tac, tic tac, tic tac, tic tac... Tic
que bonito menino as horas já sei dizer
tic tac, tic tac, tic tac, tic tac... tic *...tic tac


(excerto do poema "O menino do tempo" de PjCondePaulino)


PjCondepaulino



Continua...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O SEGREDO DO POETA(Continuação)



(Continuação do post anterior...)


O SEGREDO DO POETA


Quando os médicos avaliaram as queimaduras infligidas pelas brasas do braseiro, não conseguiram acalmar os progenitores perante a possibilidade do seu menino ficar cego, uma vez que era prematuro dar tal informação com rigor e bom senso. Foi um corre- corre dos amigos a apoiar incondicionalmente a família em aflição.

No trigésimo quinto dia, o amigo Jacinto pegou no Jorge - olhou cuidadosamente, e, no seu falar cadenciado, disse:

  • Meus amigos, não se preocupem mais, o menino vê - vejam como os olhinhos reagem ao movimento da luz.

Os belos olhos verdes, tinham vencido o medo e o fogo.

No meio desta alegria de viver o poeta não se conteve e cantou:****

*Na memória, das minhas memórias, vejo o vento e sinto o mar
*No toque das mãos de nuvens, sinto a brisa soprar, envolvente
*No mar do meu amar inocente, voei mais tempo sem correntes
*No meu rosto de criança, sonho e sinto, a ternura dos ausentes
*Na memória, das minhas memórias, vejo o vento e sinto o mar!
*

**** **** ****

A menina da sala ao lado do quarto onde o Jorge nasceu, era a Cármen, filha de Manuel Gonçalves e Maria Alice Dupont; de ascendência espanhola e francesa, respectivamente.

– Os pais e amigos chamavam-lhe amorosamente, “Cari” , amiguinha, presente nas brincadeiras inocentes do “Jorginho. Podemos ver o quadro:


    Continua ...

terça-feira, 7 de julho de 2009

O SEGREDO DO POETA

Nota prévia: Leitores, pela amizade que nutro por vós outros: Não procurem nesta história, pessoas reais, e muito menos, a exactidão geográfica dos acontecimentos relatados - Não passa de ficção. O Alentejo, por exemplo - não existe.
Eu sei...porque vivi lá!"lol"

I
O Segredo do Poeta


O relógio da sala marcava a meia noite, o pai, ansioso, esperava que o primeiro filho nascesse no quarto ao lado. Assim, passaram três longos minutos, quando, subitamente, se ouviu um choro de criança. Era ele, sim, ele - a chorar pela primeira vez, segundo o ritmo da palma da mão da parteira de serviço, na presença da sua mãe - dorida, curiosa e feliz.

O dia 14 em Fevereiro de 1962, foi inegavelmente importante, na história da vida do Jorge; nasceu. A confirmação foi sobejamente evidenciada pelos maiores especialistas na matéria. Segundo esses “expertos” foi o ano de melhor colheita do Séc.xx. Bem, é verdade que esses “entendidos” eram os seus pais. Quem feio ama, bonito lhe parece, não acham?

Mas, há algo muito importante que ainda não contei: na sala onde o pai do Jorge esperava, estava também uma menina linda, com três meses de idade, sorridente no colo de sua mãe, esperando por ele. Bem, queridos leitores, isso é outra história, que não quero por enquanto revelar.

*** *** *** *** *** *** ***


O mês de Janeiro chegou invernoso - a noite estava fria, o silêncio imperava na velha casa de aldeia, excepto o gargalaçar do bebé de onze meses no biberão branco de leite. Estava sentado na cadeira de bebé, a balançar-se no cinto de segurança feito de tecido, olhando perigosamente, as brasas vermelhas da lareira.

A mãe andava preocupada; o marido tardava em chegar, mais uma vez... Entrava, vigiava o menino, voltava de novo para o quintal na esperança de ver ao longe, entre as árvores, a luz da moto... Subitamente, o gargalejar inocente de criança, transformou-se num choro aflitivo – o som que uma mãe, jamais deseja ouvir... O pequenino Jorge tinha caído literalmente, no meio do lume de chão, na lareira semi-crepitante...


(continua no próximo post...)



PjCondePaulino